sábado, 12 de dezembro de 2009

Quero fazer uma confissão

Quero fazer uma confissão esta noite
porque a noite e a rua foram jantar juntas. 


Quero dizer que amo uma mulher
cujo corpo não me dá
o seu calor esta noite,
cuja ausência é um ronsel laranja. 


Quero dançar com minha sombra
para que o seu rumor chegue até ela
e ela saiba que eu lhe dou a noite,
toda senhora. 


Quero escrever coisas que não se esvaeçam
com o sol,
que a chuva as faça flores
que cheirem a ela. 


Quero que as minhas mãos voem,
voem em silêncio
onde ela guarda os seus sonhos...
sonhos que me pertencem
porque eu lhe pertenço. 


Quero que ela fique, fique sempre,
quero ser a sua voz
quero ser o seu sorriso verde,
quero ser a sua chuva no cabelo,
quero amá-la mais do que ninguém
ama ninguém. 


Quero dizer-lhe, aqui e agora, que a amo
com a minha voz baixa,
com o meu ar de outono lento,
com o meu sabor de beijos possíveis. 


Quero que os pássaros sejam
os meus mensageiros de saudade. 


Quero que o mundo comece quando ela vir.
Quero sonhar acordado com o seu tacto entre as
minhas mãos
a percorrer ela em silêncio o meu peito
e acordar com ela junto de mim,
calada e doce. 


Quero só eu dizer-lhe sentimentos
que aceleram o coração,
o seu coração apaixonado,
eu gosto da sua timidez. 


Quero nadar na sua boca sem horizontes.
Quero os versos todos do planeta
a falarem dela,
versos curtos de violetas,
versos firmes de cravos,
versos perfumados de rosas. 


Quero suster os seus pés no ar
e trazer ao seu peito gaivotas fiéis
que sempre deixam pegadas na praia. 


Quero ser eu no seu corpo
da alva ao sol-pôr,
de lua a lua
de eternidade a eternidade. 


Quero amá-la até o meu último alento. 


Alex Fagundes

domingo, 6 de dezembro de 2009

Hino a Pã

by Master Therion,
Aleister Crowley



Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

Fernando Pessoa




sábado, 5 de dezembro de 2009

Lembranças







Intervalo

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado —
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca —
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Apenas mais um, mas com consciência disto...

Capítulo I

Sob a penumbra de um fim de tarde que chegava, onde os últimos raios de sol atravessavam a já gasta e sofrida toalha de linho branco utilizada como cortina, ele, cansado de mais um dia de trabalho sob o ardor de um sol escaldante, olha a sua volta procurando algum conforto instantâneo. Seus olhos, vítimas dos venenos utilizados no plantio que lhes possibilitava viver, focaram serenamente em um calendário. Um destes calendários que as pequenas mercearias interioranas oferecem a seus clientes, como forma de os agradecer por mais um ano de negociações satisfatórias. Como fato usual naquela época, neste calendário havia a foto de uma santa, ou de uma celebridade, não recordo dos detalhes que me foram contados a algum tempo atrás. Santa ou celebridade. Se soubessem que nos dias de hoje estas imagens seriam tão semelhantes na mente das pessoas, com certeza eles teriam feito questão de atentar um pouco mais de atenção quando me contaram sobre isto. Mas, voltando ao que importa ser relatado, ele reparou na data riscada por uma caneta azul e tentava recordar qual era a importância daquele dia. Não conseguiu. Somente não esqueceu este dia: 12 de fevereiro de 1985.

Ligou o pequeno rádio que lhe fazia companhia nas noites em que era obrigado a ficar acordado, cuidando das estufas nas quais se encontravam os molhos de fumo colhidos na semana anterior. O odor era de tal maneira forte, que ele não precisava se preocupar com os animais selvagens que insistiam em rondar sua casa. No rádio, ouvia uma voz distante, serena mas alegre, que noticiava os acontecimentos semanais. Entre estes, um discurso do agora falecido Papa João Paulo II, o qual guardou na memória não sabe como, mas se exclusos alguns erros causados pelo tempo, lembra que o texto dizia o seguinte:

Carissimi,

1. Sono lieto di questo incontro, che mi offre la possibilità di celebrare insieme con voi il 40° anniversario di fondazione della vostra grande famiglia, la Confederazione nazionale dei coltivatori diretti. Vi saluto tutti con grande affetto, rivolgendo uno speciale pensiero al vostro Presidente Dottor Lobianco che ringrazio per le parole rivoltemi, al suo predecessore, l’Onorevole Bonomi e al consigliere ecclesiastico, Monsignor Notarangelo.

Rendiamo anzitutto grazie a Dio per la significativa testimonianza di fedeltà alla dottrina della Chiesa e agli interessi del mondo rurale che voi avete dato in questi anni di vita della vostra associazione.

Quando, nell’ottobre del 1944, ancor prima che il flagello della guerra terminasse, alcuni dirigenti dell’Azione Cattolica Italiana, con ispirata chiaroveggenza e con profondo spirito sociale, diedero vita all’associazione professionale e sindacale dei coltivatori diretti, essi si impegnarono a considerare la dottrina sociale cristiana come principale fonte di orientamento e di ispirazione per la loro attività.

È giusto riconoscere che la vostra associazione tenne fede a questo programma e trovò sempre il conforto e l’incoraggiamento nella viva parola dei miei predecessori oltre che nelle encicliche sociali e nella solenne voce del Concilio. Conoscete bene l’ampio capitolo che l’enciclica Mater et magistra dedica al lavoro agricolo, la costituzione Gaudium et spes, l’enciclica Laborem exercens.

2. La Coldiretti è nata in un momento difficile e drammatico per la vita delle campagne. Qualcuno di voi ricorda ancora l’arduo programma che vi attendeva. Bisognava riportare in condizioni produttive normali la terra sconvolta dal passaggio della guerra, proprio quando si aggravava il fenomeno dell’“esodo” - come lo chiamò Pio XII - dalle campagne di molti giovani e di intere famiglie.

Voi avete dovuto invitare il lavoratore della terra a entrare nelle nuove forme di vita associata, necessarie per lo sviluppo della professione agricola, aiutando il contadino ad uscire dall’isolamento e dalla secolare sfiducia verso le istituzioni. Avete contribuito a superare l’opposizione tra città e campagna, causa frequente del disamore alla terra e al lavoro dei campi. Urgeva, specialmente all’inizio, superare quelle condizioni umilianti di dipendenza in cui i lavoratori della terra sono ridotti o costretti a operare. Soprattutto dovevate guadagnare la gioventù rurale, formando i giovani e preparandoli ai loro doveri di coltivatori mediante corsi speciali affrontando, con originali iniziative, la mancanza di istruzione professionale.

Voi avete accolto la sfida dei tempi e avete organizzato un’assistenza tecnica e sociale efficace perché il coltivatore conoscesse i propri diritti, amasse la terra in ordine alle nuove esigenze di produzione. Avete operato perché non prevalesse, per quanto possibile, nella nuova società, una mentalità di tipo classista e materialista, poco disposta a rispettare le peculiarità della cultura contadina.

Perciò di gran cuore invoco su di voi, sul vostro lavoro, sulle vostre campagne, sulle vostre famiglie, sulle persone care, l’abbondanza della grazia divina.

Amen!

Ironico pensar que no mesmo dia deste discurso, um nigeriano e três israelitas foram condenados, em Londres, a 46 anos de prisão, depois de terem supostamente confessado que drogaram e tentaram passar, da capital britânica para Lagos, na Nigéria, num contentor aéreo, um ministro nigeriano exilado em razão de discussões religiosas perpetradas numa pequena capela.

Diferentemente do longo discurso emitido pelo então representante papal, ele tomou conhecimento de um pequeno poema, que uma locutora, tomando, parece, com força, o microfone do locutor oficial, fez questão de recitar:

Nunca escrevi

sou apenas um tradutor de silêncios

a vida

tatuou-me nos olhos

janelas

em que me transcrevo e apago

sou

um soldado

que se apaixona

pelo inimigo que vai matar”

Quando terminou, a moçoila atrevida, apelido este ganho do locutor oficial enraivecido, informou que estas palavras eram partes do poema Escrever-me, de Mia Couto, que acabara de ser publicado. Apesar de ele nunca ter ouvido falar neste nome, gravou aquelas palavras enquanto fervia mais um litro d’água numa enferrujada chaleira, que mais tarde serviria como base para algumas boas xícaras de café que o manteriam acordado.

Após o intervalo comercial, a programação no rádio parecia tratar apenas de um assunto, como se este satisfizesse todos os ouvintes: carnaval. É. Esqueci de comentar. Era época de carnaval, como continua sendo até hoje. Mas digamos que naquela época o carnaval era um pouco diferente do que esta festividade meramente carnal que nós conhecemos. As jovens esperavam por esta época do ano ansiosamente, pois nestes dias aproveitavam dias de liberdade que não possuíam no decorrer do ano. E os jovens, ah, os jovens... Estes parece que sempre foram iguais. Numa época em que o avanço tecnológico ainda não havia invadido por completo os lares brasileiros, esta era a única época do ano em que os jovens podiam fartar-se com imagens de belas e inocentes garotas e mulheres dançando e se divertindo como nunca. Só não imaginavam eles que, por mais que insistissem para que acontecesse algo mais físico entre eles, a vontade maior delas era apenas a de dançar e, através da dança, liberar todos os seus medos e preocupações.

Depois de uma breve pausa, o locutor anunciava as escolas de samba campeãs daquele ano, sendo que antes de um raio cair próximo ao local onde ele estava, apagando qualquer resquício de energia elétrica existente, ele pode ouvir que no Rio de Janeiro a campeã havia sido a Academicos do Salgueiro, com o seguinte samba enredo:

“Soprando forte do Sul

Um ciclone feiticeiro

Venta pelos anos trinta

E traz Vargas, o mago justiceiro

Veio cumprir nobre missão

E mudar o destino da nossa nação

No palácio...

No palácio das Águias foi o senhor

Levantando o povo, trabalhador

Do solo fez jorrar o negro ouro

E a usina do aço, transformou em tesouro

Ô, ô, ô, ô Getúlio Vargas

O guerreiro vencedor

Apagou a chama da rebeldia

E afirmou a nossa soberania

Deu vida à justiça social

Criou leis trabalhistas

E a tranqüilidade nacional

Com punho forte e decisão

Esmagou a trama da traição

Mandou nossos heróis além mar

Para as forças do mal derrotar

Na fantasia do folclore do nosso povo

Festejava as vitórias no Estado Novo

Pensando no progresso da nação

Fez a moeda subir de cotação

Sucumbiu após a sanha traiçoeira

E da carta derradeira

O povo fez sua bandeira

Rufam os tambores do Salgueiro

Exaltando Vargas

O grande estadista brasileiro”

Ao lembrar destes versos enquanto me contava suas histórias, ele se emocionava e dizia sentir saudades daqueles tempos nos quais o respeito e a palavra ainda predominavam sobre os interesses pessoais.

Voltando aos fatos, após a energia elétrica sucumbir perante os raios que continuavam a clarear a noite, disse-me ele que procurou, em vão, alguma coisa que o pudesse tirar da penumbra em que o local no qual estava se tornou. Desistindo, apenas recostou sua cabeça sobre um fardo de arroz que se encontrava próximo e resolveu esperar até que a eletricidade voltasse. Em razão do cansaço acumulado nos últimos dias, não demorou a ele adormecer, sendo acometido por estranhos sonhos que o levavam de volta no tempo, aproximadamente seis meses, onde um fato que ele mesmo causou o fazia estremecer cada vez que lembrava. Neste sonho, que nada mais era do que as lembranças que insistiam em perambular errôneas por sua mente, ele se via discutindo com sua esposa. Ela havia lhe contado que estava novamente grávida. Ele, pensando em todas as dificuldades que ambos haviam passado quase três anos antes, quando do nascimento de seu primeiro filho, não aceitava este fato. Ela balbuciava palavras de acalento e conforto, mas ele somente ouvia o choro de um recém nascido com fome o acordando no meio da noite, sendo sabedor de que não havia nada para lhe dar de comer. Não que lhe faltasse responsabilidade para cuidar de seu rebento, mas justamente naquele ano, a colheita havia sido prejudicada por imensas chuvas que caíram de forma contínua no estado onde vivia. Os olhos dela, já em lágrimas, imploravam para que ele se acalmasse. Os cabelos haviam perdido a forma longa e cadenciada que formavam até sua cintura e mais pareciam como um ninho de pássaros abandonado. Num isto de raiva e descontrole, ele a empurrou, como se com isto dissesse que ela era a culpada por aquilo e que ela era quem seria responsável sozinha pela criança que estava a caminho. O que ele não podia prever é que ela acabou por se desequilibrar e cair por uma escada que os encaminhava a saída da pequena casa em que moravam. Quando deu por si, somente a viu deitada, com um corte próximo a região dos olhos, donde joravam pequenas mas constantes gotas de sangue. Na mesma escada onde tantas vezes eles haviam feito amor sem pensar nas conseqüências, onde tantos momentos de intensa felicidade tomavam conta de seus espíritos, naquele dia ela jazia estendida como se a morte a tivesse possuído. O desespero tomou conta dele. O hospital mais próximo donde moravam ficava a aproximadamente uma hora de carro e o vizinho mais próximo ficava a pelo menos dois quilômetros. Sem saber o que fazer, a pegou nos braços e a deitou sobre a cama. Suas lágrimas se misturavam ao sangue que cobria a face dela e no momento começavam a escorrer por entre seus seios. Correu até a cozinha e de posse de um pequeno pano utilizado para secar as poucas louças que possuíam tentava limpar o sangue que ainda escorria. Aflito, não conseguia perceber que a respiração dela continuava e que seu coração ainda batia, num ritmo mais leve, mas ainda batia. Passados alguns minutos, ele a viu abrir os olhos. Agradeceu por ela estar viva e abraçando-a com tanta força que ela chegou a reclamar, começou a desculpar-se. Ele não ouvia o que ela dizia. Apenas a beijava e a agradecia por estar viva. Dormiram desta forma, ela assustada pelo que havia acontecido e ele, com mais sangue sobre si do que ela mesma, aliviado por não ter perdido a única pessoa que havia amado até aquele dia.

Quando os raios do sol apareciam por trás do horizonte, eles acordaram no mesmo instante e por mais que tivessem coisas a serem feitas, ficaram deitados e abraçados por mais um longo tempo. Ele continuava a se desculpar e ela, muito mais madura e serena do que ele, já tendo entendido que não o que aconteceu não era a vontade dele, apenas o confortava em seus braços. Resolveram, ainda deitados, que deveriam ir até o hospital ver se estava tudo certo com ela e com o bebe, que ele não somente havia aceitado como começava a se entusiasmar com a idéia de ter mais um herdeiro. Entraram em seu velho dodge amarelo, e tomaram o rumo da cidade mais próxima. Lá chegando, enfrentaram as agruras de ter que aguardar até que uma boa alma os atendesse de forma decente e que ela pudesse ser examinada. O destino quase nunca apresenta suas razões, mas neste dia eles imaginaram estarem com sorte, pois após apenas uma hora de espera um jovem médico os chamou. Explicando o que havia acontecido, contaram da gravidez recente dela e pediram para que ele a examinasse. O jovem médico chamou uma das enfermeiras que por ali passavam e pediu que a mesma os pusessem em algum quarto vago.

Enquanto esperavam pelos exames, ambos parecem que já haviam esquecido do fatídico dia e somente conversavam sobre o novo rebento. Qual seria o sexo. Qual seria o nome que dariam. Nisto ele lembrou que o berço que havia sido utilizado por seu outro filho, que nestes dias estava visitando seus avós paternos, ainda estava guardado no porão da casa e imaginaram se ele ainda poderia ser utilizado. Quando a enfermeira adentrou o quarto onde estavam chegou a estranhar o estado de animo do casal, pois estes sorriam de uma forma extremamente leve.

A enfermeira a levou para uma outra sala, onde o jovem médico já a esperava. A ele não foi permitido a entrada, mas ele estava tão animado que já não se importava em ter que ficar na sala de espera. Longas duas horas se passaram até que o jovem médico veio lhe chamar. Todo a sua felicidade logo se esvaiu quando reparou no olhar do médico. Um olhar de quem teria que contar uma notícia triste e não sabia como fazer. Pressentindo o pior ele adentrou a sala, onde ela estava em prantos. Perguntou o que havia acontecido, mas em seu coração ele já sabia. A criança não havia resistido a queda.

Não sabe-se se por sua sorte em não ter que enfrentar aqueles fatos novamente ou por qual seja o motivo, ele acordou e percebeu que a eletricidade ainda não havia sido restabelecida. Viu, a alguns metros donde estava, uma luz fraca e instável vindo em sua direção. Secou as lágrimas que haviam caído sobre seu rosto por conta do sonho e se levantou.

Quando a luz chegou mais próxima, viu que era ela. E como ela estava linda naquele dia. Conforme passavam os anos, a beleza da face dela o encantava mais e mais. Seu corpo, apesar das agruras do tempo e da forma de vida que levavam, ainda permanecia incólume. Seus seios não eram fartos, mas presos sob um decote quase instransponível lembravam o desejo que ele sentia por ela. Ela havia o perdoado pelo acontecido naqueles meses atrás. Ele é que ainda não havia se dado o perdão. Quando ela estava a menos de um metro dele, ele a puxou para seus braços, fazendo-a largar a pequena vela que trazia. Sussurrava em seu ouvidos frases como: eu te amo; eu não posso viver sem você. Ela estranhou toda aquela situação, mas sempre era bom ouvir palavras amorosas de seu marido. Deitaram sobre o chão gélido, mas o calor de seus corpos parecia ter incendiado todo o local. Fizeram amor de forma incansável, como a tempo não faziam. Mal sabia eles que aquele dia mudaria suas vidas para sempre.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Alguns textos antigos...





Revirando entre os arquivos de um velho computador, encontrei alguns textos elaborados à um bom tempo atrás, sendo que maioria era totalmente niilista -



O que posso lhe dizer hoje...
Posso lhe dizer que o ser humano é fruto de um erro, e assim sendo, os erros cometidos por ele são meramente de sua natureza...
Sabe o que mais me faz falta?
A ilusão de querer te encontrar e não o poder...
As horas que se passam, no relógio, refletido ao inverso no espelho ao qual estou aparelhado, mostram-me que a hora de agir já findou-se...
O que era para ser feito, já o foi..
Só resta-me esta última ilusão...


lágrimas caem em meio as cinzas de uma distração perigosa...
o ensurdecedor som do silêncio...
silêncio da solidão...
quanto tempo faz...
will be together...
husband and wife...
now and forever...
for the rest of your lifes...
take me to heaven...
take me tonight...
ty foi embora...
gorg o fascinou...
e abalá o levou...



Olho em teus olhos e o que vejo?...
Mares de vis profanações contra tudo e todos
Os meros imbecis que um dia ousaram te amar, e,
pelo tão odioso fato que te impuseram, julgaste-os
culpados de um crime que tu mesma houveste cometido.
Desembainhas-te tua espada maléfica, molhada no sangue
Dos inocentes, e das profundezas do império do Rei Carmin, opuseste-te
Aos bens que uma vida oculta poderia oferecer-te...


Amor...
sentimento intensamente estranho...
que nos faz chorar..
que nos faz rir...
que nos faz pensar em alguém mais do que em nós mesmos...
que nos faz abandonar o resto do mundo por apenas uma pessoa...
e abandonar esta pessoa apenas pela morte...
quem não ama jamais sofre...
mas também jamais pode dizer que viveu...
pois viver, é mais do que apenas respirar...
é mais do que apenas falar...
é mais do que apenas sentir o vento atravessando o seu corpo...
e sim, perceber que este vento que nos toca nas horas de maior
solidão, toca-nos apenas para lembrar-mos da pessoa amada...
e sofrer-mos por não estarmos junto a ela naquele momento...
mas alegrar-mo-nos por saber que um dia possamos estar...
porque as noites são tão frias quando não se está junto a quem se ama?


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Da liberdade, ou da vida sem rumo...

O que nos é melhor, ter uma vida de liberdades, sem saber o rumo certo que tudo
irá tomar, ou privar-de de algumas ditas liberdades e por sua vida em um rumo aceitável?

Se eu pudesse contar quantas vezes, em meio a noites silenciosas, divaguei sobre estas
questões, com certeza precisaria de algum auxílio eletrônico.

Creio que a questão principal resida no fato de que, enquanto algumas pessoas
tem uma maior facilidade em escolher suas ações e omissões, uma parcela da raça
humana foi agraciada com o poder de não saber o que fazer de suas vidas.

Digamos que eu me enquadre, sem discussões, na segunda categoria.

Deixo passar oportunidades realmente excepcionais por não saber o que fazer com elas, assim
como tento criar oportunidades onde não exista a menor possibilidade delas acontecerem.

Hoje tive mais um exemplo claríssimo disto, mas não me é interessante divagar sobre ele neste momento.

O que posso dizer, com certeza, é que por diversas vezes amo mais a liberdade do que a possibilidade de um rumo coerente. E isto me faz, definitivamente, mal.

Porque a liberdade nada mais é do que a adequação de nossos desejos a aquilo que consideramos como sendo necessário para nossa vida. Você pode se considerar um ser livre. Mas isto não é garantia de um ser feliz.

Digamos que a liberdade e a felicidade nem sempre andem de mãos dadas. Ou melhor, quase sempre interagem como Montechio e Capuleto.

Também há que se considerar a minha eterna síndrome de Cyrano de Bergerac, que já me impediu anteriormente e, por vezes, continua a me impedir os fatos intrínsecos a esta personagem.

Dezenas de palavras ainda poderia ser ditas quanto a isto, mas deixarei para outra hora, haja vista meu orgulho - já em pedaços - não me permitir a continuação hoje.

Só sei que a música abaixo nunca fez tanto sentido quanto neste momento.



Riding through this world all alone
God takes your soul, you're on your own
The crow flies straight, a perfect line
On the Devil's Bed until you die

This life is short, baby that's a fact
Better live it right, you ain't comin back
Gotta raise some hell, 'fore they take you down
Gotta live this life
Gotta look this world in the eye
Gotta live this life until you die

You better have soul, nothing less
Cause when its business time, it's life or death
The king is dead, the light goes on
You'll lose your head when the deal goes down
Better keep your eyes on the road ahead

Gotta live this life
Gotta look this world in the eye, gotta live this life until you die