segunda-feira, 30 de junho de 2008

Amor próprio...


"A natureza do amor-próprio e deste eu humano é de só se amar a si e de só se considerar a si. Mas que há-de fazer? Não saberia impedir que este objecto que ama esteja cheio de defeitos e de misérias: quer ser grande e vê-se pequeno; quer ser feliz e vê-se miserável; quer ser perfeito - vê-se cheio de imperfeições; quer ser objecto do amor e da estima dos homens e vê que os seus defeitos só merecem a sua aversão e o seu desprezo. Este embaraço em que se encontra produz nele a mais injusta e a mais criminosa paixão que é possível imaginar; porque concebe um ódio mortal contra esta verdade que o repreende, e que o convence dos seus defeitos. Ele desejaria aniquilá-la, e não a podendo destruir em si mesma, destrói-a, tanto quanto pode, no seu conhecimento e no dos outros, isto é, põe todos os cuidados em encobrir os seus defeitos, aos outros e a si mesmo, e não suporta que lhos façam ver, nem que lhos vejam. É sem dúvida um mal estar cheio de defeitos; mas é ainda um mal muito maior estar cheio e não os querer reconhecer, visto que é acrescentar-lhe ainda o de uma ilusão voluntária. Não queremos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram ser mais estimados por nós do que o que merecem: não é portanto justo também que os enganemos e queiramos que nos estimem mais do que merecemos.

Assim, quando só descobrem imperfeições e vícios que nós com efeito temos, é visível que não nos prejudicam, visto que não são eles a causa dessas imperfeições, e que nos fazem um benefício, por nos ajudarem a libertar-nos de um mal, que é a ignorância das imperfeições. Não nos devemos zangar porque as conheçam, e porque nos menosprezem: sendo justo que nos conheçam pelo que somos, e que nos desprezem se somos desprezíveis.
Eis os sentimentos que nasceriam de um coração cheio de rectidão e de justiça. Que devemos portanto dizer do nosso, quando nele encontrarmos uma disposição completamente contrária? Pois não será verdade que odiamos a verdade e aqueles que no-la dizem, e que gostamos que se enganem com vantagem para nós e que queremos ser estimados por eles por sermos diferentes daquilo que com efeito somos?

(...) A vida humana é apenas uma ilusão perpétua; o que fazemos é enganar-nos e iludir-nos mutuamente. Ninguém fala de nós na nossa presença como na nossa ausência. A união que existe entre os homens é fundada sobre este mútuo embuste; e poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse o que o seu amigo diz dele quando não está presente, ainda que ele fale então sinceramente e sem paixão.
O homem é apenas disfarce, engano e hipocrisia em si mesmo e para com os outros. Não quer que lhe digam a verdade e evita dizê-la aos outros; e todas estas disposições tão afastadas da justiça e da razão têm uma raiz natural no seu coração".

Blaise Pascal, in "Pensamentos"

"A vida deve ser um sonho que se recusa a confrontos"


Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida - figuras ridículas que fazemos, maus gestos que temos, lapsos em que caímos de qualquer das vir­tudes - deve ser considerado como meros acidentes externos, impotentes para atingir a substância da alma. Tenhamo-los como dores de dentes, ou calos, da vida, coisas que nos incomodam mas são externas ainda que nossas, ou que só tem que supor a nossa existência orgânica ou que preocupar-se o que há de vital em nós.
Quando atingimos esta atitude, que é, em outro modo, a dos místicos, estamos defendidos não só do mundo mas de nós mesmos, pois vencemos oq ue em nós é externo, é outrem, é o contrário de nós e por isso o nosso inimigo.
Disse Horácio, falando do varão justo, que ficaria impávido ainda que em torno dele ruísse o mundo. A imagem é absurda, justo o seu sentido. Ainda que em torno de nós rua o que fingimos que somos, porque coexistimos, devemos ficar impávidos - não porque sejamos justos, mas porque somos nós, e sermos nós é nada ter que ver com essas coisas externas que ruem, ainda que ruam sobre o que para elas somos.
A vida deve ser, para os melhores, um sonho que se recusa a confrontos.

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

domingo, 29 de junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Das cinzas...


"E assim, quase como num compasso absurdo de sons inaudíveis e de cores invíseis, a vida vai passando e aquilo que era importante acabou-se tornando desprezível, e o que era desprezível acabou-se tornando um sonho. Há ilusão. E assim sendo, há o sofrimento. Pois nada nos faz sofrer mais que a esperança baseada numa ilusão. E assim morremos. Senão física, mas intimamente. E assim renascemos. Senão intimamente, mas com esperança. Esperança naquilo que não se quer. Naquilo que está longe de ser alcançado. Mas a phoenix ressurge das profundezas de suas próprias cinzas e traz consigo a lição de que só podemos atingir nossos objetivos através de nossos sacrifícios. Hoje sacrifiquei um sentimento. Mas por um bem maior. E assim posso adormecer tranquilamente..."

Apenas mais um...


A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.


Vladimir Maiakóvski in A Flauta Vértebra

Elefante que era viciado em heroína vai voltar à vida selvagem

Apelidado de "Grande Irmão", o elefante que vivia pacificamente com seu bando perto da fronteira da China com Mianmar, na província de Yunnan, foi capturado por tratadores em 2005, informou o jornal chinês "China Daily" nesta quinta-feira (30). "Para controlá-lo e para que ele pudesse liderar a manada para onde eles queriam, os tratadores o alimentaram com bananas cheias de drogas", disse o jornal. Os tratadores, entretanto, foram presos tentando vender o "Grande Irmão" e seu bando após um aviso à polícia florestal.

Dependência


O elefante desenvolveu uma feroz dependência de heroína e se tornou um perigo às pessoas que lhe negavam uma dose, afirmou o jornal, citando a polícia.
O "Grande Irmão", que fazia movimentos bruscos e babava, teve de ser transportado para um parque especial na ilha da província vizinha de Hainan para tratamento, já que uma suspensão imediata da droga seria uma verdadeira tortura para o animal. Depois de ser diagnosticado com dependência de heroína, as autoridades do parque em Hainan passaram um ano cortando gradativamente sua dependência por meio de metadona, além de banhos e massagens regulares. Agora, livre do vício, o "Grande Irmão" vai em breve retornar para casa.

Aqui o elefante viciado em um momento de descontração




Me desculpem, foto errada...


Vamos tentar mais uma vez


Ah, agora sim....

"Nunca desista de seus sonhos"

"Nunca deixem que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem... ou que seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser alguém..." Renato Russo

Post gentilmente sugerido e enviado por Kari...




E eu acrescento:

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Apenas uma recordação...

Sabe quando uma música que lhe foi muito importante em algum momento de sua vida, de repente lhe vem na cabeça,assim, sem nem sequer pensar nela?? Pois é... foi o que me aconteceu...

domingo, 22 de junho de 2008

Nem sempre é o que parece...


Quando vemos essa imagem, nosso sentido de "sobrevivência" e ignorância humana nos levam a crer em apenas um desfecho possível. Olhe atentamente pra essa imagem e guarde consigo o que pensar. Logo após desça um pouco mais.













É, e os animais sempre nos ensinando...

Uma das diferenças entre o Brasil e o resto do mundo

Romenos votam em defunto nas eleições para prefeito

Candidato morreu logo depois do início das votações.
Mesmo morto, Neculai Ivascu teve 23 votos a mais que seu rival.
Os moradores de uma vila na Romênia votaram em um político já morto nas últimas eleições municipais da cidade de Vionesti, realizadas neste mês, preferindo o falecido a seu oponente vivo. Neculai Ivascu, 57, líder por quase duas décadas, morreu por conta de uma doença no fígado logo depois do início das votações, no último domingo (15). Ainda assim, ele venceu com 23 votos a mais que o rival Gheorghe Dobrescu. Um oficial afirmou que as urnas continuaram abertas mesmo depois da morte de Ivascu: ele alegou que caso Dobrescu ganhasse, isso eliminaria a necessidade de realizar novas eleições. “Sei que ele morreu, mas não quero mudar meu voto”, afirmou um eleitor de Ivascu à TV romena. No final, as autoridades deram o posto ao segundo colocado, mas alguns eleitores e o partido de Ivascu, o Social Democrata, querem a realização de uma nova eleição.

Enquanto isso, no Brasil:

Justiça abre processo para apurar se eleitores mortos continuam votando

A Justiça Eleitoral do Acre abriu procedimento para saber se existem pessoas que, mesmo estando mortos, continuam votando nas eleições.

Ao confrontar dados contidos no cadastramento eleitoral com a relação de óbitos fornecida pela Previdência Social, ficou constatado que os títulos de 18 pessoas já declaradas mortas foram movimentados.

Este dado foi o suficiente para a juíza da 9ª Zona Eleitoral do Acre, Mirla Regina, determinar uma investigação para identificar quem são os possíveis fraudadores.

Na convocação que a juíza fez via edital publicado nos jornais de Rio Branco, apenas uma pessoa até agora foi identificada pela Justiça.

- O nome não pode ser revelado, mas a família apresentou a certidão de óbito. Neste caso, o título será imediatamente cancelado, garante a juíza.

Ao final do processo, a relação dos títulos cancelados será entregue para o presidente da sessão no dia da eleição. Caso apareça alguém com o documento do falecido, os membros da mesa darão voz de prisão e o acusado responderá por crime eleitoral. (JAC)



Esse é o meu Brasil, gostamos tanto dos nossos políticos, que nem mortos deixamos de votar neles...

ps. a imagem é meramente ilustrativa



sábado, 21 de junho de 2008

A lenta flecha da beleza...


"O mais nobre tipo de beleza é aquele que não arrebata de repente, que não faz ataques impetuosos e raptadores (esse provoca com facilidade o tédio), mas sim aquele que se insinua lentamente, que, quase despercebido, a pessoa traz consigo e, em sonhos, vem mais uma vez ao seu encontro, mas, que, por fim, após ter estado muito tempo no nosso coração com toda a modéstia, toma inteiramente posse de nós, enche os nossos olhos de lágrimas, o nosso coração de ânsia..."

Friedrich Wilhelm Nietzsche

Uma singela homenagem...

Bebê de um ano é intimado por dar calote em 'massagista'

Um bebê de um ano de idade foi intimado a comparecer à corte de Harrisonburg, na Virgínia (Estados Unidos), para explicar o não-pagamento de uma conta de US$ 391 (cerca de R$ 647) a um quiroprata, profissional que manipula vértebras para tratar doenças. Richard White, pai do menino, disse ter ficado chocado quando recebeu a intimação pelo correio. O documento exigia a presença de seu filho Jacy no tribunal. Nem Richard nem sua esposa eram citados na ação. Logo depois de seu nascimento, em abril de 2007, Jacy foi levado pelo pai ao quiroprata. Richard alega que, sem que ele soubesse, o convênio não cobriu os US$ 391. E agora, por algum erro dos arquivos, Jacy foi considerado responsável pelo calote. Diante do absurdo da situação, o quiroprata retirou a queixa.

ps. vi no globo.com

Não sei por que, mas essa notícia me lembrou de algo, ou melhor, alguém


e para quem não conhece, o rapaz da foto é Anthony Garotinho hehe

Lembranças de quem não me sai da cabeça, parteII

When you say nothing at all- Ronan Keating



In Loving Memory - Alter Bridge

Improvável, na minha opinião o melhor espetáculo de humor da atualidade...

Transforma



Imitações improváveis



Só perguntas


sexta-feira, 20 de junho de 2008


A curiosa vida de sacerdócio sempre cativou Sandro, um pobre menino de algum lugar do interior. Vendo sua vocação seus pais o mandaram para o Seminário onde se formou, sábado ele realizou a sua 1ª missa, estava muito nervoso e pediu ao Arcebispo algumas orientações para acalmar-se. O Arcebispo, como alternativa mandou Sandro colocar duas gotas de Vodka num copo de água antes de iniciar a missa. Realizou a missa numa tranquilidade espantosa, mas no domingo recebeu a seguinte carta:
01) Na próxima vez coloque gotas de vodka na água e não gotas de água na vodka;
02) Não coloque limão e açucar na borda da taça;
03) O missal não é um apoio para o copo;
04) O manto da imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, não deve ser usado com guardanapo;
05) Existem 10 Mandamentos e não 12;
06) Existiram 12 Apóstolos e não 10;
07) Não nos referimos à Cruz como "aquele T grande";
08) Não nos referimos ao Nosso Salvador Jesus Cristo e seus Apóstolos como "JC e sua Banda".
09) Não nos referimos a Judas como "filho da puta";
10) O Papa é
sagrado e não castrado, e não nos referimos a ele como "o padrinho";
11) O Pai, o Filho e o Espirito Santo, não são "
o Velho, o Júnior e o Aparecido";
12) Judas não enforcou Jesus e Tiradentes não tem nada a haver com a história;
13) Backstreet Boys não estava na relação de música do coral;
14) Aquela "casinha" era o confessionário e não o banheiro;
15) Evite
apoiar-se na imagem de Nossa Senhora, muito menos abraça-la;
16) A iniciativa de chamar o público para dançar foi muito salutar, mas fazer trenzinho e correr pela igreja, NÃO;
17) Limite-se a sermões sobre religião e evite falar de futebol e política;
18) Água benta é para benzer os fiéis e não para
refrescar a nuca;
19) As hóstia devem ser distribuídas para o povo e não ser
usadas como petisco, junto com o vinho;
20) Aquele pregado na Cruz, era Jesus Cristo e não Raul Seixas;
21) Edir Macedo não é diretor financeiro da Igreja Católica;
22) O nome do Papa é Bento XVI e não Leonardo, e nenhum dos dois fez dupla sertaneja com Xororó;
23) Belém, onde Jesus nasceu, não fica no Pará;
24) Judas vendeu Jesus no Sinédrio e não no Mercado Persa, e foi por 30 moedas e não por "duas pila";
25) Os
pecadores quando Morrem, vão para o inferno e não para a “puta que os pariu”; 26) Pelos 45 minutos de missa que acompanhei, notei essas falhas;
27) Lembre-se que uma missa leva em torno de
1 hora e não 2 tempos de 45 minutos;
28) Numa missa não se faz
perguntas ao público, nem existe carta e nem se faz consulta aos universitários;
29) Onde se reza a missa não é chamado de "
palco do mundo" e sim de Altar;
30) Aquele, sentado no canto do Altar, ao qual o senhor se referiu como "travesti de saia", era EU. Espero que tais falhas sejam corrigidas na próxima missa.
Atenciosamente,o Arcebispo

vi no Capinaremos

Lembranças de quem não me sai da cabeça...





PF cumpre 38 mandados de prisão em 7 estados e no DF contra fraudes no PAC



A Polícia Federal realiza nesta sexta-feira (20) a Operação João de Barro, que visa desarticular uma suposta quadrilha que teria desviado verbas de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para construção de casas populares.

Segundo a PF, se trata da maior operação realizada neste ano por conta do número de policiais envolvidos e da quantidade de mandados de prisão e busca e apreensão.

Cerca de mil policiais cumprem 38 mandados de prisão e 231 mandados de busca e apreensão em sete estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Goiás e Tocantins - e no Distrito Federal.

A PF suspeita que os projetos apresentados no suposto esquema de fraude somem R$ 700 milhões. Segundo nota divulgada, a desarticulação da suposta quadrilha pode impedir fraude em contratos que somam R$ 2 bilhões.

Todos os mandados de busca e apreensão, segundo a PF, foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal. Os mandados de prisão foram expedidos pelo juiz Hermes Gomes da 2ª Vara de Governador Valadares (MG).

A Prefeitura de Divinópolis, que foi um dos alvos da ação dos policiais, divulgou nota na manhã desta sexta informando que os agentes estavam com mandado de busca e apreensão no setor de licitação e compras. "A PF busca informações sobre recursos federais. A Prefeitura facilita e contribui com os agentes federais na busca de prestar esclarecimentos, que possam ajudar nas investigações", informou a nota.

Investigação
A PF divulgou que as investigações começaram após denúncias veiculadas pela imprensa de que uma auditoria do Tribunal de Contas da União em 29 municípios de Minas Gerais revelou indícios de fraude nas obras. A fraude ocorreria na transferência de recursos repassados pelo governo federal em decorrência de convênios ou empréstimos cedidos pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Notícia extraída do globo.com

Imagem meramente ilustrativa e descaradamente usurpada do pérolas políticas

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Inspiração...


"Nos transportes do amor, na conversa com a amada, nos favores que recebes dela, até nos mais extremos, vais mais em busca da felicidade do que à tentação de provar isso de que o teu coração agitado sente uma grande falta, um não-sei-quê de menos do que ele esperava, um desejo de algo, mesmo de muito mais. Os melhores momentos do amor são aqueles de uma tranquila e doce melancolia em que choras e não sabes porquê, e te resignas quase na quietude a um infortúnio que desconheces. Nessa quietude, a tua alma está quase cumulada, e quase sente o gosto da felicidade. Assim como no amor, que é o estado da alma mais rico de prazeres e ilusões, a melhor parte, a via mais correcta para o prazer e para uma sombra de felicidade é a dor. (...) Quando um homem concebe o amor, o mundo inteiro se dissipa aos seus olhos, ele não vê nada além do ser amado, está no meio da multidão, das conversas, em plena solidão, abstraído, fazendo os gestos que lhe inspira esse pensamento sempre imóvel e muito poderoso, sem se preocupar com a surpresa nem com o desprezo alheios, ele se esquece de tudo e tudo lhe parece tedioso sem esse único pensamento, essa única visão. Nunca tive a experiência de um pensamento que solta a alma com tanto poder de todas as coisas que a circundam quanto o amor, e quero dizer que na ausência do ser amado, na presença de quem não se pode dizer o que acontece, com excepção, por vezes, do grande medo, que a rigor poderia ser-lhe comparado".

Giacomo Leopardi, in 'Pensamentos Diversos'

A participação brasileira na segunda guerra mundial...




Ouçam e aprendam hehe

Meia amazônia não...


Bom, os nossos representantes políticos estão cada vez mais indo de encontro ao mercantilismo e a exploração exarcebada. A mais recente incoerência, para não utilizar jargões difamatórios ou injuriantes é o projeto de Lei nº 6424/2005, que dispõe acerca da permissão para aumentar o desmatamento "legal" da amazônia, dos 20% hoje existentes, para 50%. Ou seja, metade da floresta nativa encontrada na amazônia poderá ser literalmente excluída da face da terra, e tudo isso sob o jugo de nossas "autoridades". Cumpre ressaltar que o projeto já passou pelo senado e está agora na câmara dos deputados. Em razão disto, o Greenpeace criou uma campanha, e pedimos vossa ajuda.
É simples, você entra, se cadastra e seu nome automaticamente vai para um abaixo-assinado que visa combater a promulgação deste projeto de lei.
Acesse agora o site da campanha Meia Amazônia Não, e colabore, garantido assim o futuro dos vossos filhos, e quiçá o seu próprio.
Obrigado.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Apenas mais um...


“Mas olhe para todos ao seu redor e veja o q temos feito de nós e a isso considerado vitória de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficando do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos do que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.

E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.”

(Lispector, Clarice. Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.)

créditos: www.substantivolatil.com

Plante uma árvore hoje




Todos os dias nos deparamos com notícias sobre desmatamentos em todo o Brasil. Mas, como bom brasileiro, achamos ruim e não fazemos nada.

Já é chegada a hora da mudança, e mesmo com apenas um clique no mouse podemos reverter essa situação. É simples, você clica no link abaixo, faz o cadastro e pronto. Uma árvore a mais será plantada por um dos patrocinadores do ideal. Vamos lá, eu já fiz a minha parte, faça agora a sua.

http://www.clickarvore.com.br

"Voto não tem preço, tem conseqüência"



Para conscientizar o eleitor sobre o seu direito-dever de denunciar a compra de votos e alertar os eleitores a não negociá-los em troca de favores, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em parceria com outras organizações da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou a Campanha pelo Voto Cidadão.

Com slogans como "Candidato que compra voto não merece ser votado" e "Voto não tem preço, tem conseqüência", a campanha visa explicar e orientar os eleitores sobre o que diz a Lei 9.840/99, que garante mecanismos de punição a práticas de abuso de poder econômico e compra de votos em campanhas eleitorais. A lei diz que "constitui captação de sufrágio, vedada por esta lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa e cassação do registro ou do diploma".

O manual está disponível no endereço www.camara.gov.br/internet/Consetica. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: (61) 215-8600 ou nos sites

www.lei9840.org.br

www.cnbb.org.br


ps. 1 - imagem meramente ilustrativa

ps. 2 - vi no danosse

Vontade...


Sabe aqueles dias em que você acorda com o intuito de fazer algo que não está normalmente inserido no contexto do seu cotidiano???

Pois é, hoje vai ser um daqueles dias...

"Consequência qualquer coisa trás, e se for bom ou mal, tanto faz"
Matanza

domingo, 15 de junho de 2008




A sexta sonata soa

E os meus olhos em prantos

Pensam que não é a toa

Que existam tantos...


Tantos amores deixados

Tantas amizades desfeitas

Pois são por seres abandonados

Que de suaves aromas as rosas são feitas...


A leve brisa embriaga

A garoa gelada enobrece

Sentimos a noite deixada

Passando... e o dia já amanhece...


Quanto mais queremos sentir

Menos nos é permitido

O que nos resta é sorrir

E viver entorpecido...

Para, se possível, refletir...


Bolinhos de Bebê

Alguns anos atrás, todos os animais foram embora.

Acordamos uma manhã e eles simplesmente não estavam mais lá. Nem mesmo nos deixaram um bilhete ou disseram adeus. Nunca conseguimos saber ao certo para onde foram.

Sentimos sua falta. Alguns de nós pensaram que o mundo tinha se acabado, mas não tinha.

Só que não havia mais animais. Não havia gatos ou coelhos, cachorros ou baleias, não havia mais peixes nos mares, nem pássaros nos céus.

Estávamos sós. Não sabíamos o que fazer.

Vagueamos por aí, perdidos por um tempo, e então alguém observou que, só porque não tínhamos mais animais, não havia motivo para mudar nossas vidas. Não havia razão para mudar nossa dieta ou parar de testar produtos que podem nos fazer mal.

Afinal de contas, ainda havia os bebês.

Bebês não falam. Mal podem se mexer. O bebê não é uma criatura racional, pensante.

Fizemos bebês.

E os usamos.

Alguns deles, comemos. Carne de bebê é tenra e suculenta.

Esfolamos suas peles e nos enfeitamos com elas. Couro de bebê é macio e confortável.

Alguns deles, usamos em testes.

Mantínhamos seus olhos abertos com fitas adesivas e pingávamos detergentes e shampoos neles, uma gota de cada vez.

Nós os marcamos e os escaldamos. Nós os queimamos. Nós os prendemos com braçadeiras e plantamos eletrodos em seus cérebros. Enxertamos, congelamos e irradiamos.

Os bebês respiravam nossa fumaça e, nas veias dos bebês, fluíam nossos remédios e drogas, até eles pararem de respirar ou até o sangue deles não correr mais.

Era duro, é claro, mas necessário.

Ninguém podia negar isso.

Com a partida dos animais, o que mais poderíamos fazer?

Algumas pessoas reclamaram, claro. Mas elas sempre faziam isso.

E tudo voltou ao normal.

Só que...

Ontem, todos os bebês se foram.

Não sabemos para onde. Nem mesmo os vimos partir.

Não sabemos o que vamos fazer sem eles.

Mas pensaremos em algo. Humanos são espertos. É o que nos faz superior aos animais e aos bebês.

Vamos bolar alguma coisa.

Neil Gaiman

Intensidade....



"A perfeição não consiste na quantidade, mas na qualidade. Tudo o que é muito bom sempre foi pouco e raro: o muito é descrédito. Mesmo entre os homens, os gigantes costumam ser os verdadeiros anões. Alguns avaliam os livros pela corpulência, como se escritos para exercitar mais os braços do que os engenhos. A extensão sozinha nunca pôde exceder a mediocridade, e essa é a praga dos homens universais: por quererem estar em tudo, estão em nada. A intensidade dá eminência, e é heróica se em matéria sublime.

Baltasar Gracián y Morales, in 'A Arte da Prudência'

sábado, 14 de junho de 2008


Estava hoje vasculhando meus livros e me deparei com um texto que havia visto a algum tempo atrás e que retrata bem a diferença social existente no mundo atual. Não sei quem é o autor, então não posso dar os devidos créditos, mas gostaria de compartilhar esta pequena reflexão...



"Entrei apressado e com muita fome no restaurante.
Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.
Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga,uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
-Tio, dá um trocado?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, compro um para você.
Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos.
- Tio, pede para colocar margarina e queijo também?
Percebo que o menino tinha ficado ali.
- OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá?
Chega a minha refeição e junto com ela o meu constrangimento. Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem.
- Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele.
Então o menino se sentou à minha frente e perguntou:
- Tio, o que está fazendo?
- Estou lendo uns e-mails.
- O que são e-mails?
- São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.
Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse:
- É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Tio, você tem Internet?
- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet, tio?
- É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual, tio?
Resolvo dar uma explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Legal isso. Gostei!
- Mocinho, você entendeu o que é virtual?
- Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.
- Você tem computador?
- Não, mas meu mundo também é desse jeito… Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isto não é virtual, tio?
Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas caíssem sobre o teclado.
Esperei que o menino terminasse de literalmente ‘devorar’ o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um ‘Brigado tio, você é legal!’. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!"



sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sexta-feira 13


Bom, hoje é um daqueles dias em que o menos supersticioso sai de casa com um pé atrás.... ou os dois...

Particularmente, eu gosto desse dia...

Porém, não quero aqui tratar de mitos e superstições, mas sim do medo que temos de nós mesmos e consequentemente de nossos desejos...

Quantas vezes deixamos de fazer algo simplesmente por medo de não dar certo???

Ao meu ver, a resposta é clara: todos os dias... desde os acontecimentos irrelevantes até os mais importantes...

Enfim, cada um que tire suas conclusões...
e cuidado...


"Acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expessão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico, possivelmente até a algo mais depurado e mais rico do que o ideal helénico. Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo".

Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dia dos namorados...


Quantos corações amanheceram hoje voltados para esta data, que para quem ama, representa muito, mesmo que muitos digam que é apenas mais uma data.

Corações, apenas corações...

Mas que nos fazem deixar a razão de lado por um sentimento maior...

Enfim, parabéns a todos os amantes e deixo para falar sobre este assunto quem reamente entende...

Perdoa-se na medida em que se ama

La Rochefoucauld , François

O amor não tem idade; está sempre a nascer

Pascal , Blaise

O homem que vive na indiferença, é aquele que ainda não viu a mulher que deve amar

La Bruyère , Jean de

Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção

Saint-Exupéry , Antoine de

Há vários motivos para não amar uma pessoa, e um só para amá-la; este prevalece

Drummond , Carlos

O amor não se define; sente-se

Séneca

É certo, afinal de contas, que neste mundo nada nos torna necessários a não ser o amor

Goethe , Johann

Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele

Platão

Nascemos para amar. O amor é o princípio da existência e o seu único fim

Disraeli , Benjamin

O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio

Pavese , Cesare

A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande

Bussy-Rabutin , Roger

O amor não mata a morte, a morte não mata o amor. No fundo, entendem-se muito bem. Cada um deles explica o outro

Michelet , Jules

Temer o amor é temer a vida, e quem teme a vida já está três quartos morto

Russell , Bertrand

Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre

Tchekhov , Anton

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal

Nietzsche , Friedrich




quarta-feira, 11 de junho de 2008


Não acabarão com o amor, nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado verificado.
Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço o juramento:
Amo firme
fiel e
verdadeiramente.

Maiakovski

terça-feira, 10 de junho de 2008

Sobre hoje


O vento gélido de um outono vigoroso, ao arrastar as folhas decadentes das árvores e enebriar a visão dos descontentes, faz-me pensar, e pensando, esquecer...

Todos os dias são bons, quando há motivos para isto...
Os outros, bom, são outros...

O irretocável som do silêncio faz-me desejar mais, do que simplesmente viver...
do que simplesmente um abraço, um beijo...

Faz-me querer um sentimento...
Mas não posso querer tal expressão de vontade se eu mesmo não o fizer antes...

Pois de nada adianta esperar...
Agir, agir, agir...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Tabacaria


Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida. Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa. Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Gênio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordamos e ele é opaco, Levantamo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa. (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê - Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente Fiz de mim o que não soube E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto. Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu. Fernando Pessoa