domingo, 8 de junho de 2008

Só a morte desperta nossos sentimentos


" Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.
É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo.
É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros! "

Albert Camus, in 'A Queda'

Quando olhamos para trás e lembramos tudo o que passou, vemos como Camus tem razão...
Esquecemos de dizer a um amigo o quanto prezamos por sua amizade, imaginando que ele nunca nos deixará...
Mas ele nos deixa, e só nos resta chorar por isto...

Bazza, aonde estiver, sempre levarei sua amizade no peito, como uma ferida aberta em que um sangue de ensinamentos jorra...
Nos encontramos do outro lado...

Nenhum comentário:

Postar um comentário